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Relação Mãe-bebê: A autonomia do bebê inicia com uma dependência saudável de sua mãe

Muitas mães e pais, ou aqueles que desenvolvem a maternagem, dizem querer filhos independentes e seguros, esquecendo ou ignorando que a autonomia e a segurança são processos que iniciam desde antes do nascimento, e estão intimamente relacionados com a saúde emocional dos pais e cuidadores primários e com a qualidade do ambiente proporcionado ao par mãe-bebê. Já repararam como os bebês ficam satisfeitos quando conseguem realizar algo “por conta própria”? Parece adquirirem um brilho especial nos olhos, uma alegria genuína... São cordiais, tranquilos, aprendem com facilidade...

E, ao contrário, quando não tem espaço para o seu fazer pessoal? Parecem que se tornam bebês mais acomodados, manhosos, ou mesmo autoritários e superexigentes...

Convido você a explorar comigo alguns conceitos que podem elucidar dúvidas a respeito deste tema.

Vejamos 8 tópicos que podem nos ajudar a pensar na conquista dessa autonomia:

1. Dependência absoluta: O bebê permanecerá totalmente dependente da mãe durante algum tempo. É importante que essa fase seja vivida com plenitude pela mãe. Dedicando-se de forma absoluta ao bebê nos primeiros meses de vida, o bebê adquirirá o sentido de segurança e acolhimento, além do pertencimento, fundamental para o Ser. Observemos o quanto é importante que a mãe prepare-se para esse momento, inclusive resolvendo “pendências afetivas” que traz de sua própria história de vida, causando-lhe inseguranças e carências, a ponto de competir por atenção com o seu bebê. É importante que não deixe para fazer isso quando engravidar. 2. A mãe é o primeiro “objeto” do mundo, conhecido pelo bebê. É com ela que ele realizará infinitas experiências, fazendo emergir dessa relação o seu próprio eu. Porém chegará o momento em que o bebê estará pronto para realizar algo independente dela, e é preciso compreender e estar atento a isto.

3. O desenvolvimento psíquico saudável do bebê : O bebê dependerá da "saúde psíquica" da mãe e da saúde do ambiente. Uma "mãe suficientemente boa", que confia em si mesma, em sua sabedoria materna, e que pode exercer a maternidade livremente, sem deixar-se atropelar pelas pressões do ambiente, é uma mãe capaz de oferecer ao bebê essa separação gradual e espontânea. Quando a mãe está insegura quanto à sua maternagem possivelmente vivenciará esse processo permeado pela culpa e o remorso, deixando-se levar pelas pressões ambientais, o que pode vir a interferir na conquista da autonomia pelo bebê.

4. Dependência relativa: Uma mãe saudável retomará aos poucos os interesses pessoais (estudos, trabalho, vida social). Não há saúde psíquica sem esse distanciamento (nem para a mãe, nem para o bebê). Isso será a base que todo Ser necessita para assumir seus desejos, seus interesses pessoais, sem as angústias da culpa, seja nos processos primários vividos nessa primeira fase do desenvolvimento, quanto no futuro, quando for adulto.

5. O dependência relativa é diferente de abandono: O distanciamento progressivo do período de dependência relativa não significa deixar de assistir o bebê em suas necessidades. Significa que, cuidar dele da melhor forma possível é não ser capaz de suprir “tudo” o que um ser humano em formação precisa. E isso é fundamental para que ele se torne compreensivo em relação aos limites e pequenas ausências e volte-se para outros objetos e ações no mundo.

6. Exploração do corpo e do ambiente: Podendo desfrutar de momentos de encontro com seu novo “eu”, o bebê inicia a exploração do seu corpo e do ambiente circundante. Progressivamente, se tornará capaz de estar sozinho, mesmo que na presença de alguém. Isso significa uma evolução psíquica que lhe permitirá constituir sua singularidade.

A dependência, os mimos e estimulações excessivos atrofiam ou sufocam o gesto espontâneo e a possibilidade do bebê lançar as bases do “cuidar de si mesmo e estar sozinho na presença de alguém”. O bebê torna-se inseguro a respeito dos próprios processos e conquistas, como se o mundo o invadisse antes de que ele tenha tempo para processar o este mesmo mundo de acordo com suas capacidades.

7. Saindo da relação mãe-bebê: Novos objetos vão criando um lugar nas experiências do bebê, até que ele possa iniciar uma relação com algo da realidade compartilhada. É uma primeira incursão do Ser para fora da relação mãe- bebê. Muitas vezes (se o ambiente estiver sensível à suas necessidades) ele adotará aquilo que chamamos de objeto transicional, algo que se constitui psicologicamente como fazendo parte de si mesmo e ao mesmo tempo algo do mundo. Muitos bebês adotam as “naninhas” como esse objeto. Dormem, acordam, mamam, brincam, sempre de posse dela como condição fundamental de tranquilidade e bem estar do bebê, ou como objeto de experimentações nos momentos de excitação. Quando o bebê abandonará este objeto? Quando ele não precisar mais dele, como um intermediário entre ele e o mundo. Dizemos que este objeto não é deixado, mas esquecido gradualmente...

8. Rumo à independência: Atravessando a fase de total dependência, chegando a uma dependência relativa e rumando para a independência (que nunca é absoluta, mas interdependente dos outros), o bebê vai constituindo sua psique – é a formação da sua personalidade. O bebê que pôde se conectar à sua mãe, ser assistido em suas necessidades, de forma amorosa e respeitando seu ritmo, será capaz de exercer sua autonomia e experimentar sua essência, podendo dar continuidade a sua existência, mesmo com as dificuldades e obstáculos que encontre no seu caminho, que, nesse caso, serão sentidos como estímulos para a aprendizagem.

Ao contrário, o bebê, num ambiente onde sente que não pode exercer sua autonomia, pode tornar-se uma criança excessivamente apegada, manhosa, entristecida, ou ainda uma “máquina de fazer gracinhas” respondendo à demandas e comandos externos, deixando em segundo plano as próprias demandas de desenvolvimento e autonomia.

Com esses tópicos não pretendo esgotar o tema, ao contrário, somente levantar a discussão de um tema complexo, e que requer o cuidado e atenção dos pais para a saúde dos bebês!

Referências bibliográficas: Winnicott, D. W. - A criança e o seu mundo.

Andréa Tarazona – Psicóloga – Psicoterapeuta de Adultos, Adolescentes. Orientação a Gestantes, Mães, Pais e cuidadores infantis.


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